domingo, janeiro 06, 2008

Agricultura Biológica em Espaço Urbano

Nota introdutória

Cresci em Vila Nova de Gaia, e ai, não vão muitos anos, lembro-me de passarem vacas na rua, haver leite fresco, enormes campos abertos, quintas, ouriços caixeiros, sapos, ribeiros, e uma enorme tradição rural.
Existem marcos, culturais, arquitectónicos, paisagísticos que testemunham um passado recente que vale a pena avivar.
Por outro lado, os recentes desenvolvimentos da economia mundial, a realidade da economia do carbono, o constante aumento do preço do petróleo trouxeram uma nova urgência. Aproximar a fonte de produção da fonte de consumo, sobretudo no que se refere aos produtos alimentares, como os hortícolas e frutícolas.

Porquê?

Em primeiro lugar porque muitas das cidades crescem nas terras mais férteis do planeta e ai deveria ser promovido o uso do solo naquilo que este tem mais potencialidade. Em segundo lugar urge a necessidade de criar uma nova ordem de equilíbrio nas cidades, um novo conceito de espaço urbano, onde o cimento e o alcatrão devem perder peso e a natureza e os espaços verdes devem ganhar força. Finalmente, em terceiro lugar, as preocupações ambientais, a necessidade de redução das emissões de carbono e ainda a crise energética que se instala a cada mês tornam cada vez mais urgente uma aproximação da fonte de produção da fonte do consumo.
Reparem como as nossas cidades são altamente dependentes de complexos sistemas logísticos de fornecimento de bens de primeira necessidade, reparem como estão distantes as origens desses mesmos bens. Em média cada produto alimentar percorre cerca de 15,000 km até chegar a nossa casa. Pensem no que acontecerá se houver uma verdadeira crise energética e se tornar economicamente inviável fazer o transporte de bens alimentares.
Parece um cenário demasiado pessimista, contudo os factos dizerm que apenas em 2007 o preço do petróleo subiu 57%, ainda em 2001 o preço do barril do petróleo se situava abaixo do $ 30 por barril e hoje este situa-se perto do $ 100. Obviamente não ouvimos os políticos a dar muita importância a este assunto, seria obviamente indesejável criar uma onda alarmista. Contudo o alarme existe e está bem presente junto da Associação para o Estudo do Pico do Petróleo e do Gás (ASPO - http://www.aspo-portugal.net/)

Vila Nova de Gaia

Vila Nova de Gaia, é um concelho com tradições rurais, tendo ainda uma grande área com potencialidades agrícolas, nos seus 168,7 km2 fazendo deste concelho o maior do distrito do Porto. Caracterizada por uma significativa diversidade da sua estrutura económica, com tradições na agricultura, pesca, cerâmica, têxtil, ferragens, etc… Gaia tem em si enormes potencialidades. A sua diversidade paisagística, que lhe confere um carácter único, com zonas históricas de enorme valor patrimonial, como a zona das caves do vinho do porto, mas também o Mosteiro de Pedroso e de Grijó. Ainda, zonas de elevado valor arquitectónico, como são os casos da Granja e Miramar, zonas rurais onde se regista uma forte presença da realidade vivida no pais à algumas décadas apenas, como testemunham os moinhos de água e os engenhos.

O património natural também não poderá ser desprezado, pois o concelho é rico em ribeiros, e existe uma grande variedade faunística e florística presente desde as zonas dunares às zonas mais interiores. Se acrescentarmos a isto tudo as praias, a cultura piscatória fortemente vivida, especialmente na Aguda, facilmente chegamos à conclusão que o Concelho de Gaia é sem dúvida alguma um dos concelhos, mais ricos e com maiores potencialidades no pais, capaz de oferecer um elevado nível de vida qualitativo aos seus habitantes.
Por todas estas razões fará todo o sentido e dará ainda mas prestigio a Gaia ser um concelho pioneiro na exploração de um novo conceito para a Agricultura.
A Agricultura Biológica em Espaço Urbano.

Aproveito para deixar aqui escrito que em Vila Nova de Gaia, já existe um projecto de Agricultura Biológica, chama-se “O Cantinho das Aromáticas” (http://www.cantinhodasaromaticas.pt).
Para além do Cantinho das Aromáticas, a Raízes tem lutado por um espaço em Gaia para implementar o seu projecto de produção de hortícolas em Modo de Produção Biológico em Gaia, (estamos mais optimistas, desde o final do ano de 2007).

Humanismo e Ligação à Terra

Todos nós sabemos onde encontramos os nossos legumes e frutas, no Supermercado.
Estes são no entanto sítios pouco humanizados, e existem até miúdos que já nem sabem de onde vêm as couves, as galinhas, como se fazem chouriços ou queijo, podendo chegar ao ridículo de verem ervilhas ainda na vagem e dizer que estes têm uma embalagem diferente e etc, e etc… Antigamente ainda havia o Sr. Joaquim da mercearia, que conhecia todas as pessoas pelo nome e caso nos esquecêssemos do dinheiro, sorria e dizia:
– Vá lá, não se preocupe, depois passa cá e paga. Sei que não foge, sei que é boa gente…
Hoje em dia nada disto parece ser possível. As meninas dos supermercados parecem estar em competição para ver qual das máquinas registadoras faz mais “pips” por minuto, as pessoas são despachadas de tal forma que muitas vezes saímos do supermercado sem quase termos olhado nos olhos da pobre menina que trabalha a 1000 à hora, com a ameaça do despedimento apontada para a porta.
Somos desejados como clientes, mas não por muito tempo, somos atraídos mas não nos dão nada, muitas das vezes nem um sorriso…pudera, também eu não sorriria se tivesse de trabalhar num supermercado.
Mais uma vez aqui encontro uma boa razão para apostar na Agricultura Biológica em Espaços Urbanos.
Imaginem a possibilidade de ir ao campo buscar os seus vegetais, frescos, cortados na hora, ao fazer isso pode ainda aproveitar para aprender sempre algo sobre aquilo que se vai fazendo no campo, alivia um pouco o stress acumulado depois de um dia de trabalho com duas lufadas de ar fresco antes de ir para casa e cozinhar os seus vegetais ainda vertendo a seiva que lhes corre nos caules. Tudo bem diferente do Supermercado, sabendo de onde vêm os seus legumes, como foram cultivados, etc…assim estará obviamente a restabelecer laços com a Terra, importantíssimos para uma cada vez maior consciência ambiental.
O facto de os seus vegetais serem provenientes de Agricultura Biológica, por si só já encerra em si um conceito mais humano, para além de o relacionamento com um agricultor ser bem diferente do relacionamento com uma caixa registadora.
Para além de tudo que tem haver com a troca comercial, existe ainda o lado do produtor. É realmente difícil compreender como é possível um agricultor dormir tranquilo sabendo que toda a sua produção é tratada e fertilizada à custa de produtos químicos. É incompreensível que isso seja vulgarmente aceite, contaminando os nossos corpos, os nossos filhos, as nossas águas, os nossos solos. Como alguém me disse uma vez, não se devia dizer Agricultura Biológica, esta devia ser apenas Agricultura, a outra Agricultura (Convencional), essa sim deveria ser distinta no nome, a sugestão desse meu amigo foi para se chamar Agricultura Petroquímica. Não poderia estar mais de acordo.

Conclusão

Parece-me que as conclusões são fáceis de tirar. Existe espaço disponível para Agricultura Biológica em Espaço Urbano, (pelo menos em Gaia), é possível cultivar mais próximo do consumidor, permitindo maior frescura dos produtos e reduzindo enormemente as emissões de carbono. A proximidade trará a possibilidade de todos conhecerem o agricultor e a origem daquilo que comem.
Sinceramente não sei de que estamos à espera!!!

1 comentário:

paulo disse...

Olá Amigos,

Convido-vos a darem uma espreitadela também ao cultivo urbano que fazemos também em Braga. Embora em vasos pois não temos um terreno.
www.cantinhoverde.blogspot.com

estámos disponiveis para partilhar sementes, plantas e experiências